sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Bibi"…











Há bastante tempo que penso em escrever sobre a nossa amizade. Contudo, como escrever sobre um processo tão complexo e intrincado? Como definir tudo aquilo que nos une? Como colocar na escrita, tudo aquilo que já vivemos juntas? Já tentei. Não consegui!

Todas as frases que construí ficaram pobres, estéreis e desprovidas do verdadeiro sentimento que partilhamos. Embora sujeita à subjectividade de entendimento (dos outros) quanto ao termo que escolhi para definir a nossa relação de afectividade, arrisco! Arrisco dizer que não és minha amiga! Arrisco dizer que fazes parte de mim… do meu ser, da minha vida… Do meu “Eu”! Não saberia viver sem a tua presença na minha vida. Não saberia viver sem o carinho, cumplicidade e respeito (e mais todas as coisas completamente indefiníveis) que partilhamos…
Denego a possibilidade de partilharmos uma amizade como a maioria das amizades, porque a nossa transcende o contágio da maldade. Transcende a tragédia do descuido para com a outra. Transcende a possibilidade de alguém considerar destrui-la… É inútil tentar. Já tentaram e conseguiram… sabem o quê? Reforçá-la e torná-la simplesmente inabalável!
Assim, atendendo a esta minha incapacidade de definir o sentimento que tenho por ti, dedico-te algo que penso definir um pouco do que tem sido o “adubo” do sentimento que partilhamos… penso que foi assim que sempre fizemos… penso que foi assim que crescemos… foi assim que nos tornámos aquilo que somos para a outra…
A ti, dedico esta reflexão. A ti dedico esta verdade que desde sempre esteve presente na nossa relação…
Aqui vai:

Censura Amiga
"A amizade penetra nos menores detalhes da nossa vida, o que torna frequentes as ocasiões de ofensas e melindres: o sábio deve evitá-las, destruí-las ou suportá-las quando necessário for. A única ocasião em que não devemos deixar de ofender um amigo, é quando se trata de lhe dizer a verdade e de lhe provar assim a nossa fidelidade. Porque não devemos deixar de sobreavisar os nossos amigos, ainda quando se trate de os repreender. E nós mesmos devemos levar isto em boa vontade, quando tais repreensões são ditadas pelo bem-querer. Todavia, sou forçado a confessá-lo, como disse o nosso Terêncio no seu Adriana: «A benevolência gera a amizade; a verdade, o ódio». Sem dúvida a verdade é molesta, se produz o ódio, este veneno da amizade. Mas a magnanimidade é-o ainda mais, porque para a indulgência culpável, pelas faltas de um amigo, ela deixa-o precipitar-se nas suas ruínas. Mas a falta mais grave é a que despreza a verdade e se deixa conduzir ao mal pela adulação. Este ponto reclama toda a nossa vigilância e atenção. Afastemos o ácido das nossas advertências, a injúria dos nossos reproches; que a nossa complacência (sirvo-me voluntário da expressão de Terêncio) seja farta de urbanidade; mas longe da nossa baixa adulação, este auxiliar indigno de um amigo e mesmo de um homem livre. Lembremo-nos que se vive com um amigo diferentemente de como se vive com um tirano.
Quanto àquele cujos ouvidos se fecharam à verdade ao ponto de não entender mesmo a boca do amigo, é preciso desesperar da sua salvação. Conhece-se a frase de Catão que, entre outras, ficou proverbial: «A amargura dos nossos inimigos, serve-nos bem mais que a doçura dos nossos amigos: aqueles dizem-nos quase sempre a verdade; estes, jamais». O que lia de desarrazoado é que os amigos que se advertem não se encolerizem do que deve causar-lhes pena, e o façam ao contrário do que deve, não lhes causar nenhuma. Em lugar de se encolerizar de haver mal agido, eles o são de ser repreendidos. Enquanto que, ao contrário, eles deveriam afligir-se da falta e alegrar-se da censura".
Marcus Cícero, in 'Diálogo sobre a Amizade'