segunda-feira, 27 de abril de 2009

Momentos de Solidão...





Porquê este sentimento de que nada vale a pena? Porquê esta desacreditação? Hoje, sinto-me particularmente sem vontade, sem presença perante o “outro”… anulada e sem interesse… Quero fazer uma viagem ao meu interior… perceber o que está mal, o que me incomoda… Preciso de ar! Preciso que o génio da lâmpada apareça e me conceda apenas um desejo… Quero descobrir este meu incómodo perante a vida. Não entendo. Tenho a sensação que algo está para acontecer, mas não encontro pistas concretas, capazes de me orientar… de me preparar… Não estou a ser capaz… algo me escapa… Preciso de uma mão que me convide à reflexão… que me ajude a encontrar um caminho até mim…
A verdade, é que neste momento ouço gente à minha volta, passam por mim… detecto a sua presença, mas uma presença distante… muito longe... O que é isso? Pessoas que nada significam para mim, que nada significo para elas… são apenas uma outra forma de paisagem… talvez como as ondas no mar, tal como Eça de Queirós nos fala delas em certo momento: “Crescem, morrem sem que se tornem diferenciáveis umas das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rolam, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação (…)”.
O meu receio? É fazer da minha alma um jardim imenso… florescido… luxurioso… porque sei que ao proteger demasiado o meu jardim, poderei torná-lo inacessível por completo… fechado! Temo que no meio das suas flores e perfumes o meu “Eu” descubra o delírio… assusta-me poder tornar-me louca… afastada da realidade por não conseguir suster alguns aspectos do mundo… das pessoas… que começam a torna-se insuportáveis e, escusado será dizer que quem participa num delírio, dificilmente o reconhecerá como tal… Por outro lado, apesar de por vezes “pedir socorro” na busca de mim, procurar o encontro com o “outro”, grito pela solidão enquanto retiro da minha alma, pela necessidade de me renovar e me munir de forças para o real… Encontro-me na linha. A linha do meu equilíbrio. Temo a queda… O fecho das portas do meu jardim.

À MINHA AMIGA LÚ…



Amizade… talvez dos sentimentos mais complexos e difíceis de definir… Amizade tal como se define, será “afeição recíproca entre dois entes… boas relações”. Contudo, permito-me a acusar a amizade que é decretada de boca em boca… por aí… que tão facilmente se assume sem que nela seja depositado o compromisso interior…

Muitas vezes, entre diálogos diversos, insurjo-me em defesa da amizade… a verdade é que chamamos comummente amigo a alguém sem que entre os corações (o meu e o do outro) residam o afecto… aquele afecto que nos aflige e nos leva a tomar a posição da protecção, do cuidado, da necessidade de declarar ao alvo da nossa amizade o quanto é importante para nós… Ter a capacidade de “desenhar” no gesto… no movimento, os sentimentos que habitam no coração… Gosto de ti! És importante para mim! Simples! Não é preciso verbalizar se não for essa a forma pela qual conseguimos manifestar esses afectos… basta agir e fazer sentir no outro o que mora cá dentro… em nós…

Fico triste quando é declarada a desacreditação neste sentimento… a Amizade. Lamento o vazio daqueles que durante a sua vida não encontram este “porto seguro”… Eu encontrei. Sou feliz porque de formas diferentes conto com afectos… não muitos, até porque, como tudo o que na vida é precioso, existirá em pouco número. Não falo das pessoas com quem normalmente e quase sempre (quando estamos) gostamos de estar. Falo das relações que nos permitem a manifestação dos excessos… os nossos excessos. Os excessos que nos são legítimos. Os excessos que nos permitem o equilíbrio… coração aberto sem defesas nem artifícios. CUMPLICIDADE. PARTILHA.

A ti querida amiga, dedico o meu cuidado, o meu afecto, a disponibilidade do meu coração. Gostas de mim. Conto com isso agora e sempre, apesar da distância física que nos separa. Sei que não foi por acaso que as nossas vidas se cruzaram… desde a primeira vez houve encontro… não o encontro físico… o encontro entre as almas… a recepção e retribuição de algo que nos levou à mais profunda compreensão de nós mesmas… a partilha de algo que muito raramente ou nunca é conseguido. A Participação mútua no crescimento da outra… a leitura das mais subtis sensações, sem que daí emirja o comprometimento… a censura no sentir… sentir apenas… sem culpas nem obrigações… intimidade… sem medo de ser julgada, humilhada, invejada ou dominada, segurança de que a confiança não será traída…

A relação humana pode, de facto, tornar-se muito forte… tão forte que a separação física torna-se ridícula… torna-se um nada perante a proximidade deste sentir… Gosto de ti. Encontramo-nos por aí… Encontramo-nos, quando pensares em mim… quando eu pensar em ti… para sempre… Eu estou aqui. Tu estás comigo. Moras em mim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Crise ou Consequência?

























Crise… palavra do dia, da noite, em casa, no café, na peixaria, no cabeleireiro, no trabalho, no ginásio e no raio que a parta… Chega! Chega deste veneno, deste ambiente poluído e cheio de inconsciências, de projecções de culpas e de responsabilidades!


Será que ninguém vê, ninguém sente, todos perderam a noção do real?


Ainda ninguém se perguntou onde está a sua cota (grande cota!) de responsabilidade na situação que avassalou a sua vida?! Será que estamos esquecidos de tudo aquilo que temos vindo a fazer ao longo dos anos e que não podíamos? Pois é! Eis as consequências de muitos dos nossos actos. E não me venham com a história do Governo e afins… Onde fica o Governo da nossa vida, da nossa casa do nosso “Eu”?


Será que se abateu sobre todos os “Eus” uma tremenda falta de memória? Ninguém se lembra de quando gastou mais do que podia gastar? Despender muito, muito mais do que a sua bolsa lhe permitia? Mais do que alguma vez poderia assumir (a curto, médio e longo prazo)? Aquele sofá que levaria 5 anos a pagar, mas que apenas lhe custava umas dezenas de euros por mês… aquele carro, que apesar da sua prestação mensal de “uns quantos “valentes” euros (à partida sustentáveis), o obriga a assumir esse valor durante 6/7 anos…todos aqueles cosméticos de marca, a que facilmente nos habituamos; aqueles produtos dos mais variados géneros que tanta falta não fazem (e que acabam por consumir uma boa parte do orçamento disponível na família), a casa de sonho devidamente mobilada com todos os extras “XPTO” (porque não há nada que os amigos ou vizinhos tenham que outro “Eu” não possa ter!) … aquele LCD com não sei quantas pulgadas e milhentos pixels (sem os quais é impossível ter uma excelente imagem), o telemóvel topo de gama com ecrã x e com funções y (porque não basta que o telefone faça chamadas!), cujos carregamentos têm obrigatoriamente de ser feitos… (pois não ter saldo no “bicho” é uma vergonha!) Querem mais? As madeixas que custam os “olhos da cara” e quem sabe “do dito cujo”, mas que têm de ser feitas de 4 em 4 meses (porque o cabelo sem madeixas está fora de moda! CLARO!) As irresistíveis “lojas dos chineses”, dos “150”, dos “300” (ponto de paragem obrigatório – comprando as mais variadas banalidades, porque é barato, claro!)... Enfim… penso que me estou a esquecer de mais umas “mil e quinhentas coisas” super necessárias e imprescindíveis… isto muitas vezes em situação de precariedade no trabalho ou vencimentos que pouco ou nada ascendem aos 450 euros mensais, mas que, têm exactamente o mesmo valor quando se aufere 600, 700, 800, 900 quando as pessoas simplesmente não aceitam o tamanho do seu “lençol” e tentam “esticá-lo” sempre um pouco mais até que… Chega a Crise! A famosa senhora! Agora, o que necessita de ser “coberto” transcendeu a capacidade de “tecto”. Não será isto? Serei eu assim tão injusta e inoportuna por fazer tais observações? Ou simplesmente suponho, que foi encontrada uma boa forma de apontar o dedo para o que quer que seja senão para si próprio? Um excelente bode expiatório (neste caso uma grande “cabra” expiatória) para o mal de cada um…? É que, quem tem “boas almofadas” capazes de suportar os mais valentes tombos não está muito preocupado! Preocupados estão aqueles que “inventaram” ou se iludiram pelo facilitismo e garantia (que ninguém garantiu) de “puffs” mágicos que mais não são que “cimento armado”.


Aceito, de facto, que a publicidade é agressiva, tal como se proclama por aí, que a Banca (que vende dinheiro – é esse o seu papel) seja muitíssimo astuciosa no seu processo de conquista do consumidor, nas estratégias que utiliza para activar o “laboratório das necessidades”, aquelas necessidades que se fundamentam na imagem que todos nós queremos “vender” gratuitamente a outros.


Não estou contra (de forma alguma) ao querer mais para si… estou sim, contra a incapacidade dos indivíduos se enquadrarem na sua real condição individual, no seu (por vezes) falso mundo de poder, na sua inconsciência face aos instrumentos de que dispõe para assumir as suas escolhas e decisões pessoais… a obsessão por estilos de vida - à partida insustentáveis e caricatamente construídos por si … Eu Própria me permito a excessos que não correspondem à minha real condição de sustentabilidade perante os mesmos, mas também sei quando não devo, quando não posso... A isto eu chamo de Governo – o meu Governo… ninguém me obriga a ceder a pressões e “agressividades” que me impelem ao consumo. Ninguém me posiciona perante situações, que naturalmente não se harmonizam com a minha capacidade de resposta.


Atenção! Não falo de aceitação nem de “curvatura” perante os sonhos e objectivos de vida. Falo das acções individuais. De responsabilidades inerentes ao livre arbítrio e às consequências daí resultantes. Sejamos mais críticos perante nós mesmos e avaliemos as reais prioridades.


Projectemo-nos com assento no real e concreto. Sejamos mais exigentes, mas menos fantasiosos, porque chegou a altura de pagar a factura de tanta irreflexão, de tanta “firmeza” de actuação perante a inexistência de estruturas sólidas. Sejamos mais responsáveis e menos alucinados pelo “mundo do ter”. Que bom seria “Termos” e “Parecermos” menos em detrimento do Sermos mais!